O país, ao lado de Índia e Estados Unidos, é um dos principais fabricantes de combustíveis de origem biológica não fóssil
A produção dos biocombustíveis dá-se a partir de produtos agrícolas. A cana-de-açúcar é a mais utilizada para esses processos, porém, também pode-se obter a matriz energética por meio do milho e da mamona
De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisa triplicar até 2030 para que o mundo possa alcançar emissões líquidas zero de gases do efeito estufa até 2050.
Ciente disso, o Brasil, que é um dos principais fabricantes de combustíveis de origem biológica não fóssil, como o etanol, por exemplo, está aproveitando a presidência temporária do G20, assumida em dezembro do ano passado, para expandir essa agenda entre os países do grupo e ampliar mercados.
“O G20 pode ser a oportunidade de resolvermos em nível técnico e científico várias questões que são levantadas sobre biocombustíveis. É um ano em que o Brasil também se prepara para a COP 30 [em 2025, no Pará] e que eu espero que seja histórica”, afirmou o secretário de Clima, Energia e Meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores, André Corrêa do Lago, em seminário organizado pela prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com o Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, na sexta-feira (23).
A atuação nacional neste cenário está sendo sobretudo por meio da Aliança Global para Biocombustíveis, iniciativa lançada em setembro de 2023 e que reúne, além de Brasil, Estados Unidos e Índia.
Durante o encontro no Rio de Janeiro, que foi acompanhado pela reportagem do jornal Valor, Laís Garcia, chefe da divisão de energias renováveis do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que a Aliança está em um momento de definição interna sobre as instâncias decisórias e que pode favorecer a discussão de critérios de sustentabilidade dos produtos.
“Para criar um mercado global, é necessário ter regras comuns, precisamos entender como vamos avaliar a intensidade de carbono desses combustíveis”, apontou Garcia. Ela acrescentou que as metas de descarbonização estabelecidas para os setores marítimo e de aviação vão gerar demanda para os biocombustíveis nas próximas décadas, e que o mercado precisa estar posicionado para isso.
Na Petrobras, Maurício Tolmasquim, diretor de Transição Energética e Sustentabilidade, relatou que já tem sido orientado o planejamento em biocombustíveis de acordo com as metas de redução de uso de combustíveis fósseis aplicadas às frotas de navios e aviões. O plano Estratégico da companhia prevê US$ 1,5 bilhão em negócios de biorefino até 2028. “Não tem oferta de combustível no mundo para isso. Vislumbramos que esse é um grande mercado aberto. Existe um mercado, e não tem oferta”, pontuou o executivo.
Outro ponto que os participantes do seminário observaram, conforme relatado pelo Valor, foi a limitação para a produção nacional. “A tecnologia brasileira não é muito conhecida lá fora, mas é muito importante para estimular a produção no resto do mundo e criar uma demanda de maior consumo de biocombustíveis”, disse Thomas Trebat, diretor do Columbia Global Centers Rio, hub de programas e iniciativas da Universidade de Columbia relevantes para o Brasil.
Garcia criticou a resistência que alguns países impõem às matérias-primas utilizadas na produção de biocombustíveis, sobretudo na União Europeia. “Esse é um grande problema para ampliação dos mercados de biocombustíveis. Hoje em dia, a União Europeia tem regras severas dependendo das matérias-primas usadas e o Brasil lamenta. O Brasil gostaria de qualificar esse debate e estamos abertos a discutir com a União Europeia e qualquer outro país”, completou.
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